sábado, 22 de outubro de 2016

A ÚLTIMA RECONCILIAÇÃO - CAPÍTULO 12


CAPÍTULO XII
O casamento de Maria foi normal. Nada mesmo de extraordinário, nada de pomposo. Nivaldo compareceu para ajudar. Já frequentava com assiduidade a casa de Marli. Ajudou e bebeu a vontade. Conheceram a namorada de Marcus. Nem bonita e nem feia, apenas simpática.

Marli estava grávida. Como falar com sua mãe? Tinha que falar e falou. Dona Leontina recebeu a notícia como quem a esperava. Conversou com Nivaldo. Dai a um mês morariam juntos, sem casamento.

Alugaram uma casa de quatro cômodos numa rua não muito distante de Dona Leontina.

No quinto mês de gravidez, Marli teve hemorragia violenta. Perdeu a criança. Depois de alguns dias de repouso decidiu não trabalhar mais de doméstica.

As coisas de uma hora para outra começaram a ficar difíceis. Nivaldo não encontrava mais emprego, mais trabalho, raramente alguns bicos. Chegou passar quatro semanas sem um dia sequer de ocupação. Marli conheceu a dor e a agonia de acordar com o estômago e o armário vazio. Nivaldo passou a beber exageradamente e a fumar ainda mais. Marli também adquiriu, para acalmar os nervos, a hábito de encher os pulmões de nicotina.

Um dia, Nivaldo chegou de porre em casa. Não era nem a primeira e nem a segunda vez. Olhou para ela com os olhos caindo. Perguntou para ela onde tinha ido e por que passara a tarde toda fora de casa.

Tinham dito para ele que sua sogra aconselhava Marli a deixá-lo. Era verdade. Dona Leontina tinha pena da filha. Guardava sempre um prato de comida para ela.

- Você não é casada de papel passado minha filha. Só tá amigada. Deixa esse homem pra lá. Recomece a sua vida.

Bem que Marli concordava com a mãe. Porém, pobres noites de amor ainda a prendia a Nivaldo que lhe fazia morrer de gozo quando a possuía sobriamente.

- Onde cê tava, muiê?

- Na casa da minha mãe. Respondeu ela.

- Na casa da minha mãe. Arremedou ele.

Levantou-se e aproximou-se dela cambaleando.

- Eu já te falei para não ficar dando ouvidos à sua mãe. Terminou de falar e deferiu um murro fechado no rosto da mulher. Quando Marli começou a entender o que estava acontecendo já havia levado outros murros que a deixaram desnorteada. A cachaça parecia dar mais força ao homem.

Mudaram para uma casa menor. Aluguel mais barato. Dois cômodos e um minúsculo banheiro.

Marli gostou da mudança. Cinco dias sem ir à casa da mãe. Nivaldo vendeu o som, o jogo de sofá e a televisão. Liquidou as contas. O que sobrou juntou com a venda da geladeira e comprou uma carroça com uma velha mula arreada.

Cinco meses haviam se passado na nova casa. Marli tinha levado mais duas surras no novo lar. Prometeu para si mesma que na próxima deixaria Nivaldo apesar de ter encontrado um consolo na nova rua.
A próxima veio violenta como as outras. Marli cumpriu o prometido a si mesmo. Foi para a casa da mãe.

Nivaldo foi buscá-la. Humilhou-se. Prometeu que não a surraria mais. Ela voltou.

Ele a surrou muitas outras vezes e muitas outras vezes ela o deixou. Muitas outras vezes ele foi buscá-la e muitas outras vezes reconciliaram-se.

Desta vez não sabia o que fazer.

- Desgraçado. Não falou nada durante o almoço. Que esse filho da puta pensa que eu sou? Cansei de ser saco da pancada. Desta vez não vou voltar nem a pau. Decidiu. Iria para a casa de sua mãe como das outras vezes. Só que agora seria definitivo. Assim que ele saiu, ela se foi.

- Só tenho uma coisa minha filha. Dessa vez eu não vou deixar aquele caco do seu marido te levar de volta. Aquilo não presta, é uma merda.

Seis horas da tarde. As palmas estouraram do outro lado da porta. Dona Leontina atendeu:

- Some daqui, seu vagabundo, cachaceiro, ela não vai falar com você. Foi logo jogando essas palavras contra o rosto de Nivaldo.

- Ela é minha muiê. Lugar de muiê minha é em casa.

- Deixa mãe que eu me entendo com ele. Marli não resistiu sem ir até a porta vê-lo. Dona Leontina voltou para a cozinha como que dando por perdida a batalha.

- Marli, eu prometo que foi a última vez. Não vai acontecer mais. Eu prometo até parar de beber.

- ....

- Marli, acredite em mim. Eu juro pro cê.

- Jura mesmo?

- Juro.

- Nivaldo, eu vou. Mas da próxima vez eu fico e você nem adianta vim com essa cara de molenga pro meu lado, tá.


- Não vai ter próxima vez.

Se você está lendo pela primeira vez um capítulo dessa novela, volte ao CAPÍTULO 01

Nenhum comentário:

Postar um comentário